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terça-feira, 21 de junho de 2011

Obsessões e compulsões em crianças: Normal ou patológico?



“Um, dois, três, quatro, cinco, seis” – diz a criança no carro a contar as árvores ou postes que vão passando.

É habitual e até normal as crianças apresentarem, ao longo do crescimento, algumas obsessões. No entanto, com o desenvolvimento psicológico é espectável que esses pensamentos obsessivos e intrusivos desapareçam.

Como as crianças têm, normalmente, uma enorme dificuldade em relatar e descrever sensações, emoções e/ou sintomas, muitas vezes as suas as atitudes obsessivas e/ou compulsivas podem ser mal entendidas pelos pais, os quais tentam corrigir com chamadas de atenção, castigos ou agressões.

É importante, então, compreender do que se trata quando se fala de Perturbação Obsessiva-Compulsiva da Personalidade.

A obsessão é caracterizada pelo perfeccionismo, pela preocupação excessiva com detalhes, regras, listas, ordens, organização ou horários, entre outros. É comum que esta se desenvolva antes das obsessões ou, até mesmo, que exista sem obsessões (no caso das crianças). E há diversas formas de se mostrar. Por exemplo:
  • Ideias obsessivas de Dúvida - dificuldade em acreditar que determinada tarefa foi feita da forma certa. Ex: Nestes casos, os cadernos das crianças têm muitos sinais de borracha por terem apagado e escrito muitas vezes a mesma palavra
  • Ideias obsessivas de Sujidade e Contaminação – estão relacionadas com temas como pó, sangue, doenças. A criança pode ter ideias obsessivas quanto à sua auto-estima, achando-se suja por exemplo.
Por sua vez, a compulsão, é um comportamento sistemático, repetitivo e intencional que surge, muitas vezes, devido à ansiedade causada pela obsessão ou para evitar que alguma situação que assusta a criança realmente ocorra. Por exemplo: “se eu não bater na madeira 3 vezes, alguém de minha família vai ficar doente”... “se eu não rezar 2 vezes essa oração, o monstro mau aparece debaixo da cama”...

 As compulsões mais comuns são:
Limpeza e descontaminação - como por exemplo, lavar mãos, roupas, objectos pessoais repetidamente

Verificação - diz respeito à necessidade absurda de testar, conferir ou examinar repetidamente as coisas para conferir que ficou bem feito. Por exemplo, voltar inúmeras vezes para confirmar se a porta está fechada, a luz apagada, a janela fechada, a gaveta fechada, etc.  
  • Repetir ou tocar - muito comum também, uma vez que a própria característica das compulsões é a repetição. Acender e apagar a luz diversas vezes para aliviar a ansiedade da dúvida de ter deixado acesa .

  • 33 a 50% das pessoas referem que o início da perturbação ocorreu na infância ou adolescência pelo que é preciso estar atento quando um pequeno grau de obsessões não só se mantém como, diversas vezes, aumenta e domina o dia-a-dia da criança, colocando-a num enorme sofrimento pois, por vezes, o inicio é repentino e muito claro para as pessoas em redor; outras vezes é insidioso e pouco óbvio.

    Outro sinal que poderá ser valioso para os pais diz respeito ao rendimento escolar. Este, por norma, tende a diminuir como consequência da menor capacidade de concentração da criança, que se encontra dominada e assaltada por outros pensamentos que não aqueles que dizem respeito à aprendizagem.

     Acima de tudo, independentemente das diversas características que a Perturbação Obsessivo-Compulsiva pode ter e apresentar, é fundamental compreender se o bem-estar da criança está a ser posto em causa pois, muitas vezes, a criança, devido às obsessões e/ou compulsões, sofre internamente, muitas vezes de forma silenciosa, e nestes casos é importante procurar ajuda especializada.

    A intervenção precoce nestes casos pode evitar a consolidação de funcionamentos muito angustiantes para a criança.

     É fundamental nunca esquecer que, a infância, apesar de repleta de contos infantis com finais felizes, salas de brinquedos e muita inocência pode, naturalmente, ser contaminada por dúvidas, medos, receios e/ou angústias. Que são válidas e legitimas e que devem ser ouvidas e tratadas para que a criança e os pais consigam dar um nome ao sofrimento que não entendem e reconhecem. 

    Por Maria de Noronha, Psicóloga Clínica.

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